Lydia Garcia

Arte-Edução e Beleza Negra

foto de perfil lydia garcia

Pioneira da militância e ativismo negro no Distrito Federal. É dessa forma que Lydia Garcia, 82 anos, é conhecida por muitos. Ainda em meados de 1960, no início da construção de Brasília, a carioca decidiu vir à capital e continuar a trajetória de luta e garantia de direitos da população negra no Brasil.

“As pessoas consideravam a minha casa a primeira embaixada dos países Áfricanos em Brasília. Era muito comum recebermos alunos africanos. Era uma forma de militância e de inclusão”

Arquiteta Cultural

A relação com o universo das artes e da música começou desde criança, com apenas 8 anos de idade. Apaixonada por piano, formou-se em música pelo Conservatório Brasileiro de Música. Pouco depois de chegar a Brasília, Lydia começou, em 1964, a dar aulas de piano e técnicas de voz e instrumentos na Escola Parque da 308 Sul. Lecionar tornou-se, mais uma vez, um exercício que englobava a rotineira caminhada pela luta afro; Sendo a primeira professora de artes negra da rede pública no DF.

Nas salas de aula, a professora buscava ensinar, além da teoria musical, as crianças negras a “defenderem o seu espaço” e, para isso, ela acreditava que a melhor solução era um “momento de discussão sobre diferenças, aceitação e respeito”. Para Lydia, era fundamental que as crianças, desde cedo, fossem apaixonadas pelo que enxergassem ao se olhar no espelho. Ainda em sala de aula, Lydia buscava contextualizar as questões de sua disciplina com o real processo de independência da África. Segundo ela, “os livros didáticos mostram a história contada pelo ponto de vista europeu e não dão espaço para que a verdadeira memória da luta africana seja ensinada”

Além disso, há 28 anos, Lydia criou o Bazafro. A proposta da marca é inserir a cultura africana à moda. Por isso, abriu um ateliê, na própria residência, onde expõe peças de roupas inspiradas na tradição afro e produzidas com tecido africano.

foto Lydia garcia e familia

Desde a primeira gravidez de Lydia, em 1960, a vontade de transformar toda uma geração em pessoas mais conscientes a respeito da história africana era intensa. Em função disso, ela e o marido, Willy Mello, conhecido como Olu Mello, decidiram que, a partir daquele momento, todos os nomes escolhidos para os filhos seriam de origem africana. Kenya foi o primeiro nome escolhido. Em seguida, nasceu Mali, Ialê, Kwame e Luena. A ideia de valorização dos nomes africanos se deve à necessidade de “preservar a identidade” e, de acordo com Lydia, foi a forma que ela e o marido encontraram de mostrar a verdadeira origem da família. Além disso, ela conta que a iniciativa influenciou diversas famílias a seguirem a mesma proposta. “Minha família sempre esteve envolvida com a militância contra o racismo, desde que meus filhos nasceram. Hoje, tenho 11 netos e todos fazem parte do movimento negro e estão ligados de alguma forma à arte. Por exemplo, Hodari e Aori são compositores de rap, Aisha é modelo e DJ, e Yaminah é do universo da MPB” e Odaraya, artista visual como seu avô." completa Lydia.