HERstory
Nascida e criada na periferia de São Paulo, em São Miguel Paulista, a analista de sistemas não teve uma infância fácil, até porque era extremamente pobre e convivia lado a lado com o preconceito. Seus pais, um pedreiro e uma dona de casa semianalfabeta, resolveram sair das terras quentes da Bahia para tentar a sorte na capital paulista. Daniela acredita que o fanatismo religioso somado à falta de informação sobre questões de gênero, que até então não eram passadas à sociedade, cooperaram para o preconceito que tinham contra ela.
Desde criança, ela não se identificava com as brincadeiras e os brinquedos considerados masculinos. E, por não se encaixar ao padrão de homem heterossexual e cisgênero, sofria diariamente enormes represálias também fora de casa. “Eu apanhava em casa, na escola, era apontada como a ‘bichinha’ do bairro, o ‘viado’ da rua, o ‘traveco’ da escola e todo o tipo de esconjurações possíveis”, conta.
Entre as paredes das salas de aula, local onde deveria se sentir acolhida, Daniela se via, na realidade, coagida e sufocada, sofrendo humilhações dos alunos, dos professores e até mesmo dos diretores do local.
Aos 18 anos, já empregada, Daniela se assumia como uma mulher trans, deixando seus cabelos crescerem e usando maquiagens. Porém, sua família não aceitou tal mudança e, em vista disso, ela resolveu sair de casa e enfrentar sozinha os caminhos da vida. Depois de passar por altos e baixos, ela resolveu fazer o que sempre quis, que era subir no salto, colocar roupas femininas e abusar na make.
Em 2013, conseguiu uma grande realização: a mudança de nome em seus documentos, sendo reconhecida finalmente como Daniela Andrade.
Colecionadora de graduações e pós-graduações, Daniela é formada em Letras com pós em Língua Portuguesa; e Tecnologia da Informação, pós-graduada em Engenharia de Software. Mas, mesmo com tantos diplomas, ela enfrentou incontáveis preconceitos no mercado de trabalho até conseguir seguir com sua carreira de analista de sistemas, exercida atualmente.